De acordo com o Relatório de Desigualdade Global de Gênero 2016 do Fórum Econômico Mundial, entre os 144 países avaliados, o Brasil ocupa a 79ª posição do índice global de disparidade de gênero, tendo as participações econômica e política como as principais lacunas registradas. No quesito de igualdade de salários, o Brasil ocupa a 129ª posição, dentre os 144 países avaliados.
“O número de mulheres em posições de chefia continua extremamente baixo, com apenas quatro países do mundo tendo igualdade entre o número de homens e mulheres legisladores, ocupando cargos executivos e diretores de empresas, apesar de 95 países terem o mesmo índice, ou até maior, de mulheres com diploma superior”, diz o Relatório do Fórum Econômico Mundial.
Alguns afirmam que o grande desafio para as mulheres dessa geração, é tentar reverter o quadro das desigualdades de poder, de oportunidade na carreira e de remuneração entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo.
Não há dúvida que a questão da representação e participação das mulheres em todos os níveis de poder é mais discutida. Entretanto, ainda nas organizações brasileiras a grande maioria das mulheres não tem tido voz na formulação e discussão dos referenciais que orientam as questões relevantes da economia e da gestão. Apesar do avanço da mulher executiva, ainda estamos longe de um equilíbrio em relação ao trabalho dos homens executivos.
Por que as mulheres que tiveram várias conquistas têm tanta dificuldade em chegar aos cargos de comandos nas empresas?
Se por um lado as empresas apresentam um discurso modernizante, na prática o que vemos são atitudes conservadoras. Trata-se do fenômeno teto de vidro nas organizações brasileiras. O teto de vidro, tradução de sua denominação original glass ceiling, é uma representação simbólica de uma barreira transparente e sutil, mas suficientemente forte para impossibilitar a ascensão de mulheres aos postos altos da hierarquia organizacional. O teto de vidro constitui-se de um mosaico de práticas, a maior parte delas veladas, difíceis de serem identificadas por muitas mulheres e, não raro, reforçadas por muitas mulheres.
Vamos um pouco mais longe, e mais fundo?
Entrelaçado e subjacente ao fenômeno do teto de vidro, há um outro grande desafio, bastante evidente e dos mais complexos no que tange relações de gênero, que recai sobre a análise da situação da presença feminina no mundo do trabalho. Além da igualdade salarial, outros dois quesitos no Relatório do Fórum Econômico Mundial chamam a atenção: a 87ª posição do país na presença de brasileiras no mercado de trabalho, que fica na casa dos 62%, enquanto a dos homens é de 83%; e a renda média das brasileiras, que é de 11.600 dólares por ano, enquanto a dos homens é de 20.000 dólares.
Essa é uma desigualdade que está vinculada ao ponto de vista cultural e social e funda-se nas representações sociais da participação da mulher dentro de espaços variados, seja na família, na escola, igreja, nos movimentos sociais, enfim, na vida em sociedade. A cristalização dessas representações sociais reverbera no mundo do trabalho, reforçando a recorrente concentração de ocupações das mulheres no mercado de trabalho, em atividades como professoras, domésticas, cabeleireiras, manicures, funcionárias públicas ou em serviços de saúde.
É preciso revisar das funções sociais da mulher, o que passa também pela crítica ao entendimento (convencional) do que seja o trabalho e as formas de mensuração a ele aplicadas, que são efetivadas no mercado. Só para fazermos um recorte rápido, o contingente das mulheres trabalhadoras mais importante está concentrado no serviço doméstico remunerado; no geral, são mulheres negras, com baixo nível de escolaridade e com os menores rendimentos na sociedade brasileira.
Em resposta, temos muito o que construir, mas de imediato é fundamental que as mulheres lutem por políticas públicas que universalizem o direito de acesso às creches, à educação infantil, básica e média, todas em tempo integral.
Além da equiparação salarial e dos aspectos das representações sociais da participação feminina nos espaços sociais, um terceiro desafio se coloca diante das mulheres, que é o de reconhecerem diversidade naquilo que as torna iguais, pois quando mergulhamos mais fundo na questão do gênero trazendo de forma transversal outros aspectos da diversidade como raça, orientação sexual, religião, padrões estéticos etc., tornamos o leque de desafios maior e mais complexo: mulheres brancas com alto nível de escolaridade não enfrentam os mesmos desafios das mulheres negras com alto nível de escolaridade; mulheres brancas com alto nível de escolaridade e lésbicas enfrentam desafios que mulheres brancas ou negras heterossexuais desconhecem, e assim por diante.
O emprego, a renda, o acesso à educação e saúde são componentes que criam condições para que as mulheres conquistem a igualdade de condições de inserção e de competitividade no mercado de trabalho, mas o caminho para a equidade de gênero precisa se dar conta de que há desafios em diferentes espaços e dimensões e que se traduzem de maneiras diferentes para mulheres diferentes.
Desta forma, questões relacionadas à inserção e competitividade feminina no mundo do trabalho podem ser percebidas como adversidades pelas mulheres em níveis (de estresse) diferentes. E as respostas para lidar com esse estresse podem estar ancoradas em modelos mentais que ainda não identificamos, gerando comportamentos que ao invés de serem eficazes, tornam-se nocivos no longo prazo.
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Para saber mais sobre o tema Gênero e Sexualidade:
IRIGARAY, Hélio Arthur Reis; VERGARA, Sylvia Constant. Mulheres no ambiente de trabalho: abrindo o pacote “gênero”. Anais do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, 2009.
IRIGARAY, Hélio Arthur Reis; DE FREITAS, Maria Ester. Sexualidade e organizações: estudo sobre lésbicas no ambiente de trabalho. Organizações & sociedade, v. 18, n. 59, 2011.